Sinergias entre os dois países vão da cultura à biotecnologia e à IA, afirma o empresário
247 - A viagem do presidente da França, Emmanuel Macron, ao
Brasil representa uma oportunidade para relançar as relações entre os
dois países, após os atritos dos últimos anos tanto em questões
ambientais como em relação ao Mercosul. A avaliação é de José Carlos
Grubisich, hoje à frente da Olimpia Investimentos e Participações.
O
presidente francês estará no Brasil nesta semana, e na agenda constam
temas ambientais, políticos e estratégicos. Macron tem programadas
visitas a Belém (PA), Itaguaí (RJ), São Paulo (SP) e Brasília (DF). Em
entrevista, Grubisich, que também foi presidente da Aliança Francesa em
São Paulo, diz que o Brasil deveria ser pragmático e buscar o foco em
áreas onde têm, com a França, sinergias importantes – não só no âmbito
da cultura, mas de áreas de ponta, como biotecnologia e IA (inteligência
artificial).
Durante a visita, Lula e Macron lançarão ao mar o submarino Tonelero –
desenvolvido em uma parceria de cerca de cerca de R$ 40 bilhões entre
os dois países, assinada em 2008, quando o presidente da França era
Nicolas Sarkozy e Lula entrava em seu 2º mandato.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Sua relação com a França vem desde o início de sua vida profissional.*José Carlos Grubisich: Tive
uma relação muito próxima com a França. Depois do período que passei em
Paris, como vice-presidente da Rhodia, também tive uma relação grande,
tanto social como política e empresarial. Aqui no Brasil, fui presidente
da Aliança Francesa e fui presidente, com [Gérard] Mestrallet, do Grupo
Empresarial França-Brasil quando houve uma forte aproximação entre os
dois países.
Foi no momento em que o presidente Lula e o colega francês, Nicolas Sarkozy, assinaram o acordo para o submarino.JCG:
Sim,
e o produto dessa parceria é o Tonelero, que o presidente francês,
Emmanuel Macron, vai inaugurar com o presidente Lula durante essa
viagem. Mas vai além disso: nas áreas de supercomputadores, de
eletrônica, biotecnologia e aviação muitas coisas foram feitas.
Mas os dois países viveram momentos de atrito nos últimos anos.JCG:
No campo político, e houve muita discussão no campo ambiental – e mais
recentemente com a questão do acordo do Mercosul. Mas o Brasil deveria
ser absolutamente pragmático e aproveitar essa viagem do presidente
Macron para restabelecer um diálogo de alto nível estratégico, buscando
os interesses nacionais. Essa discussão de polarização ambiental e no
agro deveria ficar um pouco de lado e o foco deveria ser recolocado nas
áreas onde França e Brasil têm sinergias importantes.
E que sinergias seriam essas?JCG:
Por exemplo,
na área da cultura – o que já é bastante conhecido. A França, no
entanto, é hoje um grande um berço de startups na área de biotecnologia,
na área de IA (inteligência artificial). De uma maneira geral, acho que
o Brasil teria muitas coisas a ganhar, aproveitando essa oportunidade
para relançar um programa de aproximação com a França naquilo que nos
converge e deixando para um momento posterior a discussão daquilo que
nos afasta.
*Grubisich é engenheiro químico. Começou sua história de 24 anos na
Rhodia quando ingressou no grupo francês Rhône-Poulenc (que estabeleceu
negócios no Brasil em 1919). No ano 2000, chegou a vice-presidência
mundial da companhia – tendo antes disso presidido a empresa no Brasil e
na América Latina. Ele também comandou Braskem (2001-2008), ETH
Biotecnologia (do grupo Odebrecht, entre 2008 e 2012) e Eldorado Brasil
Celulose (de 2012 a 2017). Também comandou a Aliança Francesa em SP e
co-presidiu o grupo empresarial França-Brasil com o francês Gérard
Mestrallet (presidente da Engie).