Conjunto de ações individuais pode garantir um futuro sustentável
As mudanças climáticas em curso no planeta são uma realidade que
todos temos de enfrentar. Diariamente nos chegam notícias sobre os seus
efeitos no mundo inteiro, mas a maioria de nós não faz mais que esperar
de cientistas e autoridades públicas a solução. Além das necessárias
ações de grande impacto, como a substituição de combustíveis fósseis por
fontes de energia renovável, é preciso haver uma transformação na
mentalidade e, consequentemente, no comportamento das gerações presentes
e futuras.
A consciência da extensão do problema é o primeiro
passo nessa direção. No ano passado, a Organização Mundial da Saúde
alertou sobre a correlação entre o aumento exponencial dos casos de
dengue em todo o planeta e o aquecimento global. No Brasil, já passa de
um milhão o número de casos da doença neste ano. Há poucos dias, uma
cidade do Acre teve 75% de sua área urbana inundada. A enchente afetou a
vida de mais de 15 mil pessoas, inclusive populações indígenas, que
ficaram totalmente isoladas, sujeitas a uma série de doenças e até à
falta de água potável. Situações como essa têm ocasionado mortes,
doenças e prejuízos devastadores. E mais: o desequilíbrio climático
afeta diretamente a produção agrícola do país, como já estamos
percebendo.
No
campo, a estimativa da produção de soja em 2024 caiu mais uma vez e não
deve passar dos 147 milhões de toneladas, fruto de uma combinação dos
efeitos do El Niño com o quadro de aquecimento global. O novo cálculo
foi apresentado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que
sinalizou para este ano a possibilidade de redução de 24,2 milhões de
toneladas na safra de grãos como um todo em relação à previsão feita no
fim de 2023. Os estados do Centro-Oeste foram fortemente afetados
pela seca, enquanto o sul do país sofreu o impacto das enchentes sobre
as plantações. Ao prejuízo dos produtores soma-se um perigoso
prognóstico: a queda na produção, que se reflete na redução das
exportações e do PIB, pode evoluir para um cenário de inflação e até de
desabastecimento, com implicações na saúde pública.Recente estudo
do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em parceria com o
Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais), concluiu que o Brasil já tem regiões de clima árido no
Nordeste, resultantes do processo de desertificação.
O fenômeno se
explica pelo aumento da evaporação, que, por sua vez, está ligado ao
aquecimento do planeta.
O clima afetou as safras de milho, feijão e
melancia da região, que tiveram baixo rendimento no último ano.Existe
a possibilidade de aceleração do processo de desertificação no país,
que pode atingir até mesmo o Centro-Oeste. Esse dado é particularmente
preocupante, pondo em risco até mesmo a segurança alimentar da
população, uma vez que a região é uma das maiores produtoras do setor
agropecuário. O enfrentamento do problema envolve o uso de energia
renovável e a adoção de práticas agrícolas sustentáveis, mas requer
também a transição para estilos de vida ecoeficientes. Ações individuais
desempenham um papel essencial nesse cenário.No cotidiano, cada
pessoa pode dar a sua contribuição, desde reciclar o lixo e evitar o
desperdício de água e de comida (fazendo compostagem das sobras, para
impedir que apodreçam em aterros sanitários e gerem metano, um dos gases
do efeito estufa), reduzir o uso de ar-condicionado ou aquecedor
elétrico, substituir as lâmpadas incandescentes e fluorescentes pelos
diodos emissores de luz (LED), lavar roupas com água fria e secá-las no
varal (em vez de utilizar secadora) até instalar painéis de captação de
energia solar no telhado. São muitas as pequenas atitudes que, ganhando
escala, vão fazer a diferença.
A
tecnologia é um excelente aliado nessa luta: já existem muitos
aparelhos elétricos com consumo eficiente de energia. O Brasil aderiu à
Emenda de Kigali e já se comprometeu a reduzir o uso dos
hidrofluorcarbonos (HFC), os gases de condicionadores de ar e de
geladeiras, que são agentes mais nocivos que o CO2 e contribuem
grandemente para o aquecimento global.Evitar o uso do carro para
percorrer distâncias curtas, optando pela bicicleta ou por caminhadas,
ajuda a reduzir a emissão de gases do efeito estufa e, de quebra,
introduz hábitos saudáveis na rotina. O transporte coletivo e os carros
que utilizam energia renovável (elétrico, movido a etanol ou híbrido)
são também escolhas positivas para o meio ambiente.A pandemia de
Covid-19 nos ensinou a substituir viagens de negócios por
videoconferências, o que traz considerável redução da emissão de gases
na atmosfera. Na França, por exemplo, foram suspensos voos curtos, cujas
distâncias podem ser feitas em até duas horas e meia de trem. Os
críticos da medida consideraram mínimo o seu alcance, o que pode ser
verdade, se tomada isoladamente, mas não deixa de ser uma iniciativa na
direção certa. Um voo em um jato particular, por sua vez, emite muito
mais gases por passageiro que um voo em avião comercial.Enfim,
consciência ambiental e bom senso são os principais ingredientes da
necessária mudança de comportamento rumo a um planeta sustentável.José Carlos Grubisich é empresário e foi presidente da Rhodia, da Braskem e da Eldorado Brasil Celulose